segunda-feira, 30 de abril de 2018


 Freud: Totem e Tabu -  a função do pai em psicanálise e suas relações com a cultura.


O mito "Totem e Tabu" por Freud traz importantes contribuições para antropologia social no sentido de suscitar uma reflexão sobre o complexo de Édipo, tomando como ponto de partida a morte do pai totêmico que simbolicamente permite a constitição da estruturação do pensamento inconsciente dentro de uma perspectiva sóciocultural no que tange aos valores morais e religiosos.
Apesar de uma formação da civilização social e cultural estar relacionada à ruptura do conúbio entre entes do mesmo clã familiar, passando a exogamia, em que os homens deveriam esposar-se com mulheres de outras tribos que não a sua, os indivíduos ainda trazem consigo forte inclinação para o incesto, quando o bebê se apaixona por sua mãe e tem essa ligação simbiótica interrompida pelo pai enquanto figura simbólica da lei, cujo cerne central é a castração.
 Após uma ruptura com uma lei pré histórica o relato mítico entroduz na psicanálise o objeto passa a ser imaginário, baseada na fantasia, que permite a produção do simbolismo paterno e ganha força de lei, levando o sujeito a construir seu pensamento incosciente, no que tange à sexualidade, ao que é tabu (permitido/aceito ou não não pela sociedade/cultura na qual está inserido), em psicanálise, com seu método de associaçãolivre, chamada de teoria das ficções, que nos leva a estruturar nossa subjetividade, porque ele, o pai mitológico, é o agente do desejo da mãe.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Freud, Hobbes e o corpo político: Circuito dos afetos

Este vídeo compreende uma gama de conceitos e princípios voltados para uma análise dos estudos de renomados teóricos da Psicanálise que tratam da dinâmica dos afetos políticos e processos de transformação, por Freud e Hobbes. São Metáforas do corpo político, Moisés e o monoteísmo, a vida individual e em comunidade, bem como os afetos que nos remetem as fantasias e crenças.

Segundo Freud, é fundamental ter o afeto como base para a adesão social. Ele estudou como esse afeto influencia na vida social dos indivíduos. O que abre a possibilidade da clínica de Freud no sentido de privilegiar os vínculos à figura de autoridade, o que contribui para a formação dos sujeitos.

A partir da referência, há uma encarnação. Seja numa ideia diretiva, uma fuga, partido, enfim, o afeto, que nos abre para o afeto político é o desamparo, o medo. Este medo tem a função de estabilizar a sociedade. Ligado à força coercitiva da soberania, faz com que o sujeito tenha refreadas suas paixões. O medo é necessário, para abrir espaços para outras relações afetivas como a esperança, afastando o indivíduo das paixões desenfreadas para respeitar a autoridade soberana.

A lógica do poder é pensada a partir da incapacidade de compreender a política que transforma o amparo em afeto, no sentido de proteção, obrigação. Capacidade de amparo precisa da violência camuflada, para assim, manter contínua a sensação de desamparo e dependência da proteção por parte do soberano. É o soberano que lembra a todo momento a existência da vulnerabilidade e também da necessidade de proteção. É aí, na alimentação da fantasia social de uma guerra de todos contra todos, e dicotomicamente da proteção do soberano que tem a premissa: “Protejo, logo obrigo”, tendo sua legitimidade assegurada.

Segundo Freud, o ser humano não é uma criatura totalmente branda, ávida de amor, mas tem um forte espirito de agressão, no sentido de violentar, de usar o outro sexualmente, explora seu trabalho, maltratar e até matar. Crueldade nata, pulsional que aparenta uma crueldade nada maleável. Segundo Freud os vínculos de amor permitem espaços de construção identitária, mas tem que existir aquele que vai sofrer com sua agressão.  

Exteriorizando a agressividade, o sujeito demonstra sua crueldade como legítimo processo produtor de constituição de máscaras para a conservação dos vínculos sociais. Mas é possível desenvolver vínculos sociais que não sejam baseados no medo? No desamparo? Nas fantasias sociais?

Freud explica o medo como projeção de um mal. A angústia está ligada à expectativa, algo que vai produzir desprazer e violência. O medo e a esperança estão ligados à expectativa temporal de um mal que virá. Diante dos processos políticos o desamparo suscita uma sensação de estar num lugar, algo que nos torna vulneráveis, desamparados. O desamparo é algo inesperado, que deixa o indivíduo paralisado, sem reação, é algo desmedido, uma experiência jamais vivenciada antes. Daí a urgente e desmedida necessidade do amparo do soberano.

Segundo Hobbes, a sociedade é um corpo político, em que cada parte tem uma função e a cabeça é representada pelo soberano. Não há como falar de política sem centralizar o poder a um corpo, metaforicamente comparando o governo a um organismo. Pensemos então num corpo político que mobiliza e faz circular afetos, racionalidade argumentativa/retórica. Podemos dizer que a democracia é um regime político descorporificado.

Freud diz que não há política sem identificação, mas há diferentes maneiras de identificação, desde o simbólico até o real. O que estabiliza ou desestabiliza o grupo social. Freud defende ideias positivistas: animista, religiosa e científica. Ele foca no poder pastoral como paradigma de poder, para a constituição da autoridade política. Salienta que a democracia é um lugar preenchido pelo poder pastoral, com que procura descobrir o porquê o mito tem tanta importância nas relações sociais. Ele cita o mito do Pai Primevo, o Totem Tabu. Onde um macho era autoridade máxima, e numa prática coercitiva mantinha o poder. Após ser esse líder, assassinado pelos próprios filhos, ao invés de constituir-se uma sociedade mais igualitária, o que se produz é um sentimento de culpa que marca esse lugar do poder por um vazio. É como se todos fossem responsáveis pelo assassinato o Pai Primevo.

Daí, aparece então uma espécie de contrato social que proíbe o incesto e institui-se a regulação das paixões, pois, se eles lutassem entre si, todos convergindo em direção ao mesmo objeto de desejo, se concretizaria então a guerra de todos contra todos e no fim, tudo voltaria a ser exatamente como antes, quando o Pai Primevo tinha o poder soberano, pleno.

Surge então uma fantasia do Pai Primevo que permanece na nostalgia de todos, no imaginário da sociedade. Necessita-se de uma figura simbólica de um pai. Houve novamente a instituição dos pais que representava o líder das famílias. Temos aí uma comunidade antagônica, em que ao mesmo tempo em que se pensa numa sociedade pautada na solidariedade, tem-se também a figura do pai, aquele que tem o poder. Tem a figura do fascista, daquele que tem um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador de uma autoridade, daquele que julga aquele que transgrida a lei. É a reprodução do arcaico na sociedade.



  

      



 


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O TATO COMO FONTE DE CONHECIMENTO E AUTOCONHECIMENTO SIGNIFICATIVO

Sentido e significado são a mesma coisa? Não, o sentido está voltado para a subjetividade. É fruto do repertório de cada indivíduo. O significado é fundamentado nas regras sociais, coletivas, ou seja, algo que tenha o mesmo sentido para todo mundo. Por exemplo, uma criança que tem um gato em casa, já sabe o significado de gato, socialmente respaldado. Caso ela veja, por exemplo, um tigre e não conheça um, ela pode dizer que aquele animal é um “miau gande”. Ela construiu um sentido e fez uma adaptação, quando disse que é “gande”. Para construir um conceito de tigre e dar um significado, ele precisará descobrir características desse animal que o diferencie do gato.

Esta analogia nos leva a pensar: de onde partir? Ancorado naquilo que a criança já ouviu falar e já possui um sentido. Para então posteriormente construir um significado usando a visão.  Os sentidos associados às experiências pessoais aumentam a percepção do mundo, possibilitam novas conexões cerebrais, novas sinapses, o que só contribui para o desenvolvimento cognitivo.

Enquanto Deivid Ausubel (1918-2008) defende uma aprendizagem significativa, Reuven Feuerstein (1921-2014) defende a teoria da modificabilidade, com base na plasticidade cerebral, pois, não nascemos com inteligência fixa, quanto mais estímulos, mais inteligente o sujeito fica; e para tanto o ideal é que esses estímulos partam especialmente dos sentidos.

E aí vem nosso mestre Rubem Alves e reforça a importância dos sentidos, especialmente do tato. Segundo ele o tato é o sentido que marca no corpo, o bem e o mal. O amor e a tortura, as boas e das más lembranças e experiências.

Fala das revelações de um olhar, mas também da distância que não permite nem o carinho, nem a agressão. A audição pode nos permite o deleite de uma bela música, de um poema, falar ao telefone com quem amamos, mas jamais substituirá o prazer do toque, do contato. Ele cita sabiamente a sonata do Adeus de Beethoven, que conta uma história de partida, saudade e retorno. E no retorno o que há de melhor: o abraço, o beijo, o toque, a intimidade.

Cita experiências memoráveis como a de um bebê que acaba de nascer e rapidamente, meio que por reflexo já procura com sua boquinha o contato com o seio. O que o acalma imediatamente, mesmo que o leite ainda não tenha chegado ao bico. Ele explica então o motivo de algumas crianças se acalmarem somente com o simples fato de chupar uma chupetinha, que a deixa com a ideia de contato. Talvez por saudade de um seio tantas pessoas depositam um imenso prazer em tragar um cigarro ou até mesmo beijar o seio da mulher amada.

Salienta ainda que o tato é lugar de muitas alegrias, mas nós, nem sempre sabemos fazer desse sentido fonte de prazer e percepção.




quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SABER OUVIR.... DAR ESPAÇO ÀS FLORES

De acordo com o riquíssimo texto de Rubem Alves, o professor precisa exercitar a arte do ouvir. Exercitar e ter consciência colocando em prática essa importante atitude, que pode ser um excelente aliado no processo de conquista daqueles que nele depositam expectativas e devaneios de iniciantes.

Precisamos primeiramente enamorar nossos alunos. Aqueles pequenos seres que nos são confiados por horas, dias, semanas, meses, por 200dias. Como pode um profissional que tem a opção de viver num ambiente de harmonia, paz, confiança, amor e respeito, simplesmente destruir as ilusões de pessoas tão vulneráveis em tão pouco tempo?

É muito comum em escolas, principalmente na escola pública, nos depararmos com professores que gritam, humilham ou simplesmente ignoram os sentimentos de seus alunos. Esse profissional pode ser comparado a um matador de sonhos. Como diz o ilustre membro da Academia Brasileira de Letras Ariano Suassuna, “já basta a amargura, a dureza e as tormentas sangrentas que vivemos diariamente”. E a criança já não é poupada de nada, pois, os meios de comunicação estão sempre à mão, eles têm acesso a tudo que acontece na sociedade contemporânea. Ele cita Leandro Gomes de Barros que avalia como mais grave problema filosófico da humanidade é o suicídio. No entanto, Suassuna retruca ensinando que o cerne do maior problema da humanidade é na verdade a maldade e o sofrimento humano. E nada mais cruel do que matar sonhos.

É a partir da falta de diálogo, do desprezo às aspirações e desejos da criança que tem início ao longo, sofrido e moroso processo de pedagocídio. Vocês podem estar se perguntando: mas o que é isso? Pois eu lhes digo. É o começo do fim. Tão somente o primeiro passo para uma estrada sem volta, visto que o ser humano, por mais desejo que sinta, se não acompanha a turma, se vai sendo aprovado anos após anos, mesmo sem aprender, que sequer é ouvido por seus professores, certamente desiste pelo meio do caminho.

Mas o professor não sai ileso desse processo. Freud questionava: “Porque as pessoas buscam tanto a infelicidade? E quando encontram na forma de angustia, insônia, ansiedade, depressão, ficam admiradas e questionam: Porque comigo? ”.

Sócrates já dizia: “Conheçam-te a ti mesmo”. Segundo ele a consciência é a chave das transformações. É preciso se perguntar: O que eu quero? Onde isso vai me levar? Onde quero chegar? ”.

O professor precisa de reinventar, jogar por terra essa cultura popular que se instaurou em torno desse profissional, quando dizem que ele é tão desvalorizado, tão infeliz, tão mal remunera, coitados dos professores. Não somos coitados. Somos heróis e heroínas quando escolhemos essa honrada missão e damos conta de sermos humanos, competentes, comprometidos, éticos e acima de tudo sentimo-nos felizes e realizados com o que nós escolhemos.

Mahatma Gandhi, um sábio, aconselha: “Seja você o mundo que você deseja”. Isto é, se você quer escolas melhores, seja você o melhor professor. Se deseja um trânsito com paz, seja o melhor motorista. Se deseja famílias bem estruturadas e unidas para seus alunos, comece em sua casa, com os seus. Não se acostume ao fracasso. Construa o mundo que você deseja.





                                                                                                          Mahatma Gandhi

 “Seja você o mundo que você deseja”.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O PAPEL DO PROFESSOR E SUA RELAÇÃO COM O APRENDIZ  

De acordo com o filme apresentado, observa-se que este é o modelo de professor que precisamos para resgatar valores e aprimorar metodologias, de modo que atenda às necessidades dos educandos contemporâneos. O professor precisa ser muito mais do que um mero transmissor de conhecimentos, pois, precisa se posicionar como um mediador. Um precursor de diversas linguagens.

O filme ilustra de uma maneira deliciosa a relação do mestre com o aprendiz. Ele permite o erro e orienta com toda paciência. Dá exemplo, permite o recomeço, valoriza o fazer, ensina um dos pilares básicos da educação: aprender a fazer.

O aprendiz sempre tem necessidade de prática. Independente da série/idade, aprender a fazer algo consiste exatamente em significar a aquisição de habilidades, pois, do que vale habilidade se o indivíduo não tem competência para usá-la? É preciso estabelecer relações dialógicas, no sentido de instigar o estudante a gostar de aprender.

O professor deve ter muito claro em sua mente para que educamos. Não somente para o mercado de trabalho ou para o ENEM, mas para a vida, para que nosso aluno seja capaz de viver harmonicamente em sociedade, se relacionar com o outro de forma respeitosa, levando-os a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou superstições

O desafio do professor mediador é não ser detentor absoluto do saber, mas alguém que irá colaborar com o educando na construção do seu conhecimento. Colocando o aluno como sujeito do processo educativo, interagindo e participando ativamente das aulas.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

UM PASSEIO ENTRE A EDUCAÇÃO E A ARTE DE VER

Primeiro surge o homem, depois a linguagem e começa assim a construção das culturas e da educação. Nossos antepassados inventaram a linguagem e foram passando de geração em geração e este foi dando nomes para as coisas, funcionava como uma espécie de memória.

Essa memória toma forma, torna-se necessária, sistêmica, constrói-se assim um processo de construção de cultura. Na verdade, a educação sempre esteve presente nas mais variadas e diferentes experiências dos indivíduos desde os primeiros de o nascimento, desde os primórdios. No entanto, os primeiros sistemas de ensino, surgiram somente no século XVIII, numa sociedade burguesa.

Desse modo, o homem, a consciência e a linguagem, que antes viviam um longo processo de hominização, agora dão início a um processo de humanização. Nesse contexto é que a educação passa a ter um papel essencial.

Com a evolução, surgem também as fisiológicas e neuróticas que corroboram para o surgimento da consciência. Daí um novo processo se inicia. A humanização, que o diferencia dos demais animais e começam assim a criar um mundo próprio, iniciando, dando origem à cultura.

Essa humanização/consciência pode ser percebida, por exemplo quando um tratado de paz entre os Índios das Seis Nações e os governos dos Estados de Virgínia e Maryland foi firmado, ainda no século XVIII. Mais uma vez a educação tem papel fundamental. Como prova de amizade e harmonia entre as nações, governantes americanos oferecem vagas em escolas, para os jovens índios. Onde se revela o verdadeiro sentido da ação educativa.

A metamorfose descrita no texto de Nietzsche revela nuances da educação, no sentido de explicitar o longo processo que a educação nos revela historicamente. Primeiro tudo ficou a cargo da educação e daqueles que se dispunham a construir as práticas educativas. É comparado a um camelo, que é um animal que carrega cargas pesadas, sendo subserviente a tudo que lhe é imputado, sem reclamações e questionamentos. Por muito tempo a educação fazia isso com as pessoas, com uma metodologia tradicional, os indivíduos não tinham direito de se manifestar, de criticar, opinar, participar de nada. Tinham que engolir goela abaixo tudo que lhe era importo.

Com o passar dos tempos, estudos, experiências e pesquisas, a educação passa a ser diferente. Assim como o camelo que se transforma num leão. Educadores e educandos agora brigam, questionam, desafiam, provocam discussões. Não aceitam mais tudo que vem pronto, não aceitam um tratamento diferentes do que merecem. Não aceitam ser tratados como papel em branco, pois desejam e lutam pelo reconhecimento de seu valor. O leão recusa o legado, quer inovação e quer algo que tenha significado no presente, em busca de um futuro melhor.

Mas mesmo não aceitando somente a repetição daquilo que já faz parte do passado, e ao mesmo tempo incapaz de criar algo inovador, diferente, num terceiro momento esse bravo leão transforma-se numa criança, visto que a criança é criativa, sonhadora, leve, inocente, capaz de esquecer rapidamente o que passou e recomeçar, sem problema algum.

A criança cria, compartilha, devaneia, na busca pelo suprimento de suas necessidades e curiosidades, que dão origem às invenções, inovações tecnológicas, desenvolvimento humano, filosófico, cultura e educacional.

Cada um de nós não nasce tem uma herança sócio histórica, mas é obrigado a criar, é desafiado a buscar novas possibilidades de evolução para si, para o ambiente que o acolhe e para seus companheiros de aventura no mundo.