Freud, Hobbes e o corpo
político: Circuito dos afetos
Este vídeo compreende
uma gama de conceitos e princípios voltados para uma análise dos estudos de
renomados teóricos da Psicanálise que tratam da dinâmica dos afetos políticos e
processos de transformação, por Freud e Hobbes. São Metáforas do corpo
político, Moisés e o monoteísmo, a vida individual e em comunidade, bem como os
afetos que nos remetem as fantasias e crenças.
Segundo Freud, é
fundamental ter o afeto como base para a adesão social. Ele estudou como esse
afeto influencia na vida social dos indivíduos. O que abre a possibilidade da
clínica de Freud no sentido de privilegiar os vínculos à figura de autoridade,
o que contribui para a formação dos sujeitos.
A partir da referência,
há uma encarnação. Seja numa ideia diretiva, uma fuga, partido, enfim, o afeto,
que nos abre para o afeto político é o desamparo, o medo. Este medo tem a
função de estabilizar a sociedade. Ligado à força coercitiva da soberania, faz
com que o sujeito tenha refreadas suas paixões. O medo é necessário, para abrir
espaços para outras relações afetivas como a esperança, afastando o indivíduo
das paixões desenfreadas para respeitar a autoridade soberana.
A lógica do poder é
pensada a partir da incapacidade de compreender a política que transforma o
amparo em afeto, no sentido de proteção, obrigação. Capacidade de amparo
precisa da violência camuflada, para assim, manter contínua a sensação de
desamparo e dependência da proteção por parte do soberano. É o soberano que
lembra a todo momento a existência da vulnerabilidade e também da necessidade
de proteção. É aí, na alimentação da fantasia social de uma guerra de todos
contra todos, e dicotomicamente da proteção do soberano que tem a premissa:
“Protejo, logo obrigo”, tendo sua legitimidade assegurada.
Segundo Freud, o ser
humano não é uma criatura totalmente branda, ávida de amor, mas tem um forte
espirito de agressão, no sentido de violentar, de usar o outro sexualmente,
explora seu trabalho, maltratar e até matar. Crueldade nata, pulsional que
aparenta uma crueldade nada maleável. Segundo Freud os vínculos de amor
permitem espaços de construção identitária, mas tem que existir aquele que vai
sofrer com sua agressão.
Exteriorizando a
agressividade, o sujeito demonstra sua crueldade como legítimo processo
produtor de constituição de máscaras para a conservação dos vínculos sociais.
Mas é possível desenvolver vínculos sociais que não sejam baseados no medo? No
desamparo? Nas fantasias sociais?
Freud explica o medo
como projeção de um mal. A angústia está ligada à expectativa, algo que vai
produzir desprazer e violência. O medo e a esperança estão ligados à
expectativa temporal de um mal que virá. Diante dos processos políticos o
desamparo suscita uma sensação de estar num lugar, algo que nos torna
vulneráveis, desamparados. O desamparo é algo inesperado, que deixa o indivíduo
paralisado, sem reação, é algo desmedido, uma experiência jamais vivenciada
antes. Daí a urgente e desmedida necessidade do amparo do soberano.
Segundo Hobbes, a
sociedade é um corpo político, em que cada parte tem uma função e a cabeça é
representada pelo soberano. Não há como falar de política sem centralizar o
poder a um corpo, metaforicamente comparando o governo a um organismo. Pensemos
então num corpo político que mobiliza e faz circular afetos, racionalidade
argumentativa/retórica. Podemos dizer que a democracia é um regime político
descorporificado.
Freud diz que não há
política sem identificação, mas há diferentes maneiras de identificação, desde
o simbólico até o real. O que estabiliza ou desestabiliza o grupo social. Freud
defende ideias positivistas: animista, religiosa e científica. Ele foca no poder
pastoral como paradigma de poder, para a constituição da autoridade política. Salienta
que a democracia é um lugar preenchido pelo poder pastoral, com que procura
descobrir o porquê o mito tem tanta importância nas relações sociais. Ele cita
o mito do Pai Primevo, o Totem Tabu. Onde um macho era autoridade máxima, e
numa prática coercitiva mantinha o poder. Após ser esse líder, assassinado
pelos próprios filhos, ao invés de constituir-se uma sociedade mais
igualitária, o que se produz é um sentimento de culpa que marca esse lugar do
poder por um vazio. É como se todos fossem responsáveis pelo assassinato o Pai
Primevo.
Daí, aparece então uma
espécie de contrato social que proíbe o incesto e institui-se a regulação das
paixões, pois, se eles lutassem entre si, todos convergindo em direção ao mesmo
objeto de desejo, se concretizaria então a guerra de todos contra todos e no
fim, tudo voltaria a ser exatamente como antes, quando o Pai Primevo tinha o
poder soberano, pleno.
Surge então uma
fantasia do Pai Primevo que permanece na nostalgia de todos, no imaginário da
sociedade. Necessita-se de uma figura simbólica de um pai. Houve novamente a
instituição dos pais que representava o líder das famílias. Temos aí uma
comunidade antagônica, em que ao mesmo tempo em que se pensa numa sociedade
pautada na solidariedade, tem-se também a figura do pai, aquele que tem o
poder. Tem a figura do fascista, daquele que tem um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador de uma
autoridade, daquele que julga aquele que transgrida a lei. É a reprodução do
arcaico na sociedade.